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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A Construção Social do Branqueamento do Negro no Brasil

BRANQUEAMENTO E BRANQUITUDE NO BRASIL
Maria Aparecida Silva Bento
Este texto procura abordar as dimensões do que podemos nomear como branquitude, ou seja, traços da identidade racial do branco brasileiro a partir das ideias sobre branqueamento, um dos temas mais recorrentes quando se estuda as relações raciais no Brasil. Ao longo do texto serão focalizados alguns aspectos referentes ao entrelaçamento dessa dimensão subjetiva das relações raciais, com outras mais concretas e objetivas, uma vez que ambas se reforçam mutuamente para funcionar como potencializadoras da reprodução do racismo. Aspectos importantes da branquitude, como o medo que alimenta a projeção do branco sobre o negro, os pactos narcísicos entre os brancos e as conexões possíveis entre ascensão negra e branqueamento serão abordados.
No Brasil, o branqueamento é frequentemente considerado como um problema do negro que, descontente e desconfortável com sua condição de negro, procura identificar-se como branco, miscigenar-se com ele para diluir suas características raciais.
Continuem a leitura em  http://midiaetnia.com.br/wp-content/uploads/2010/09/branqueamento_e_branquitude_no_brasil.pdf

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O Racismo Institucional e o Estímulo ao Branqueamento do Negro Brasileiro

Branqueamento do Negro Brasileiro
O racismo institucional é entendido de várias formas. Neste caso - e de forma bem simples -, vamos conceituá-lo como sendo um mix de “tratamentos diferenciados, praticados  por agentes públicos, com anuência dos órgãos públicos empregadores, contra vastos grupos sociais de aparências físicas diferentes de outros e em benefício desses outros”.
Preocupados com essa questão, políticos brasileiros do final do século 19, guiaram a política nacional de embranquecimento com a imigração europeia e uma abolição da escravatura feita de forma a empurrar os negros para as margens da sociedade. Essa política conservava os negros em condições de extrema pobreza até que se extinguissem devido à mortalidade infantil, desnutrição, doenças e também através das sucessivas miscigenações, ou seja, aaté que os negros desaparecessem por completo do cenário nacional.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Os Negros se Tornando Cidadãos - Parte 02;

Algumas abordagens construidoras de cidadanias
José Teodoro Costa

No Brasil, por características ligadas à história da sua formação cultural, o povo nunca foi estimulado a participar da sua vida política.
Hoje o País está numa fase em que, se esse desinteresse continuar, nenhuma novidade acontecerá ainda por muito tempo na vida social, cultural, política e econômica.
No que diz respeito ao povo negro, cujas organizações antirracistas não conseguem se aproximar do negro-massa, a situação ainda é muito pior, porque as diretorias de tais associações, juntas com a intelectualidade negra não conseguem achar meios de se comunicar politicamente com essas pessoas dentro das suas realidades de vida.
Por que não se pensar em novas possibilidades de se ajudar os negros-massa descobrirem que, juntos com outros que têm as mesmas necessidades, podem conquistar aquilo que individualmente nunca conseguirão.
Movimentos voluntários, obrigatoriamente apartidários, que deem aos negros-massa informações adequadas às suas realidades de vida  podem colaborar na construção da ponte capaz de ligar suas necessidades reais às suas cidadanias de fato. Existem inúmeras iniciativas pelo Brasil capazes de demonstrarem que isso é perfeitamente possível.  
Esses movimentos também apresentam um grande potencial de, por intermédio de lideranças emergidas desses movimentos, representá-los e, indiretamente, diminuir paulatinamente, os efeitos do Racismo Institucional e, por tabela, ir tirando a legitimidade do exercício do racismo social contra negros.
 Por outro lado tais movimentos também levarão à permanente ampliação da conscientização sobre o racismo na sociedade brasileira e possibilitarão às emergências futuras de legítimas e necessárias lideranças políticas das confianças dos integrantes desses movimentos sociais.
 Seguem algumas sugestões para se discutir a formação de grupos de trabalhos voluntários despertadores de cidadanias.
1) Movimento para Reconhecimento de Paternidade para Mulheres de Presos;
2) Movimento de Mães Solteiras;
3) Movimento para Melhoria da Saúde Pública em Sua Cidade ou Bairro;
4) Movimento para Registrar Pessoas nas Áreas Periféricas das Cidades;
5) Movimento para Facilitar Acesso ao Bens Públicos em Periferias;
6) Movimento para Ajudar Moradores de Ruas;
Movimento para Ajudar na Efetivação de Direitos(?);
7) Movimento Civil Organizado como Elemento de Pressão(Conscientizando, Buscando e Denunciando);
8) Movimento de Ajuda aos Jovens na Busca de Qualificação Profissional com Base em Previsões de Possibilidades de Empregos;
9) Movimentos capazes de explicarem os baixos salários no Brasil e suas relações com os impostos que os governos cobram  sobre a folha de salários;
10) Movimentos voluntários para reforços escolares com ajuda das secretarias de educação dos municípios;
11) Movimentos de esclarecimentos sobre Impostos diretos e indiretos que a população paga;

12) Outras sugestões(Deixem no Face que disponibilizo neste blog atualizando e ampliando esta lista de sugestões.).

Os Negros se Tornando Cidadãos; parte 01

José Teodoro Costa
A maioria de nós negros se apropriaria mais facilmente da cidadania a que temos direito se conhecêssemos nossa própria História e se tal conhecimento fosse complementado com estudos sociais, psicológicos, antropológicos e culturais sobre como se deu nossa caminhada desde quando o primeiro navio tumbeiro trouxe a primeira leva de africanos até os dias de hoje.
O começo desse conhecimento da nossa própria História implicaria em sermos alfabetizados sem a predominância de vieses eurocêntricos, isto é, aprenderíamos,, sim a História dos colonizadores, mas sem aquela necessidade imperativa de fazer da cultura colonizadora a única possível no mundo.
Sabe-se que a escravidão é que viabilizou a colonização do Brasil pelos portugueses perante as realidades econômicas contemporâneas desse início de trabalho escravo. Por outro lado sabe-se também que não há como “passar a borracha” naquilo que o Mundo e o Brasil produziram em termos de economia capitalista primitiva e constantemente “aprimorada”, assim como da organização social e política resultante daquela realidade produtiva até agora.
O bom senso e a honestidade intelectual recomenda reconhecer também que as consequências do regime escravo colonial, os problemas gerados e permanentemente não resolvidos, assim como a falta crônica de compromisso do Estado brasileiro com os negros por várias décadas após o fim do regime escravo não serão corrigidas renegando o regime de livre mercado e abraçando de olhos fechados as ideologias comuno-socialistas. É que tanto o Capitalismo quanto o comuno-socialismo tem virtudes inegáveis, mas também defeitos irreconciliáveis com os valores fundamentais da vida humana.
Assim o melhor a fazer é se radicalizar na defesa de princípios democráticos e o mais urgente deles é ser militante de causas negras baseadas em valores universais da vida humana.
Quem há de negar que uma pessoa capaz de exercer com responsabilidade sua liberdade de escolhas e ao mesmo tempo defender e levar esse direito às outras pessoas não é de fato um cidadão?
A pergunta formulada anteriormente nos remete diretamente a outras três questões fundamentais na superação paulatina do racismo no Brasil. 01- Nós brasileiros, negros ou não, ainda não somos tão cidadãos na real acepção desse conceito como nos consideramos ser; consequentemente; 02 - O racismo na sociedade brasileira é, obrigatoriamente, problemas de brasileiros negros e brancos; 03 – O Racismo Institucional tem que ser atacado permanentemente por todos aqueles que consideram a intolerância racial contra negros uma coisa abominável, porque ele (o racismo institucional: http://digiartesgraficas.blogspot.com.br/2014/11/brasil-negro-e-combate-ao-racismo.html )  é quem dá permissão para se discriminar negros.
Portanto tarefa mais urgente que temos é disseminar as práticas cidadãs, formando disseminadores e multiplicadores de cidadania e isso começa dentro da casa de cada um de nós, com abordagens sobre assuntos que fazem parte do dia-a-dia de cada um, para, depois, chegar aos nossos vizinhos, à nossa rua, ao nosso bairro e assim sucessivamente. (cont. parte 02)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O Racismo Institucional na História do Brasil

O Racismo Institucional na História do Brasil
(José Teodoro Costa)
A mais simples forma de conceituar o “racismo institucional” é considerá-lo como “tratamento diferenciado praticado por agentes públicos, com a conivência desses órgãos públicos aos quais tais agentes estão subordinados, contra grupos sociais com aparências físicas subentendidas como diferentes de outros e em benefícios desses outros”.
Confirma-se a existência da matriz de discriminação negra por intermédio do racismo institucional no Brasil com as proibições de trabalhos escravos na confecção de sapatos (1813) e na venda de calçados (1821). Na Província da Bahia o Governo Provincial proibia que escravos trabalhassem como auxiliares ou oficiais artesãos nas ruas (1831).
A matriz da estratégia discriminatória contra negros, promovida e aprimorada pelo Estado Brasileiro, de forma ininterrupta desde o Primeiro Império, passou pelo Segundo Império. Por intermédio de acertos políticos entre adeptos da Monarquia (Conservadores) e Republica (Liberais), continuou após o fim da escravidão, atravessou os reinados de D Pedro I, de D. Pedro II, a República Velha e ainda faz parte da atualidade cultural da sociedade com hegemonias política e econômica decisórias na atual realidade nacional.
Essas estratégias de discriminações institucionais contra negros, promovidas pelo Estado Brasileiro, fizeram parte durante tanto tempo na vida social do País, que acabaram se incorporando de forma automática à cultura impensada ou ignorada com que a sociedade privilegiada por elas tratam os negros, em casos de conflitos reais ou imaginários de seus interesses e frequentemente produzem discursos contraditórios e pretensamente democráticos.
Se o racismo institucional foi historicamente viabilizado pelo Estado brasileiro por longo período histórico, por intermédio de suas instituições em cujas gerências o acesso é feito por meio de processos políticos, somente Movimentos Negros nacionais, representados por lideranças capazes de construírem suas legitimidades políticas terão chances reais de virarem essa página histórica longa e desagradável escrita sobre a vida do negro brasileiro. A organização da união de pelo menos 5% daqueles que se auto definem como negros já formará u’a massa crítica política capaz de impor algum respeito à sociedade brasileira, porque significará cerca de 6 milhões de votos capazes de influir no surgimento de uma reforma político-partidária amplamente necessária e facilitar as negociações políticas paulatinas das nossas lutas negras antirracistas.
Isto exigirá a renúncia de discursos políticos engajados difíceis de serem entendidos e a adoção de discursos formadores de lideranças políticas dispostas a “ouvir”, “respeitar” e “ajudar sinceramente” esses mesmos negros-massa nas suas necessidades auto percebíveis. 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Brasil: Negro e Combate ao Racismo Institucional

BRASIL: NEGRO E COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL
(Proposta para Discussões, Ampliações de Idéias e Possíveis Conclusões...)
por: José Teodoro Costa

Quando se informa sobre racismo no Brasil e no Mundo, toma-se conhecimento das mais variadas formas de práticas racistas feitas nos relacionamentos sociais e profissionais, assim como em prestações de serviços públicos e privados, nas variadas formas de mídias, nos meios(da pré-escola ao ensino médio) preparadores para aquisições de culturas diferenciadas(instituições de graduações e especializações).
Por outro lado observam-se também inúmeras denúncias desse mesmo racismo perpassando toda História brasileira e ocidental, assim como também na  formação das culturas social, política e econômica nacionais.
Há, porém, aquelas formas de racismos "praticadas por atacado" e, por isso mesmo, capazes de afetar grupos inteiros sub-repticiamente afetados pelas mais diversas formas de exclusões sociais, econômicas, políticas e culturais de tão grande amplitude, as quais só podem ser levadas a efeito pelas instituições públicas nos três níveis: municipais, estaduais e federais. Tais formas de racismos são legitimadoras de todas as espécies de intolerâncias raciais praticadas pela sociedade brasileira. Quem responde por todas as formas legitimadoras de intolerâncias raciais praticadas pela sociedade, neste caso, é o que se chama de racismo institucional.
O racismo institucional é entendido de várias formas. Neste caso entende-se como “tratamento diferenciado praticado por agentes públicos a serviço das Instituições Públicas, com anuência desses órgãos públicos, contra grupos sociais com aparências físicas diferentes de outros e em benefício desses outros”. Somente a consciência de ser portador de cidadania, acompanhada de Educação Política com participação direta(sendo político) ou sendo eleitor(votando em seus representantes(os políticos permanentemente fiscalizados e cobrados pelos seus eleitores).
A função de fornecer educação e cultura para se tornar cidadão deveria ser das Instituições Públicas Municipais, Estaduais e Federais em quaisquer fases da vida em sociedade. Porém, caso brasileiro, quando se tem alguma noção da formação histórica, ao se ouvir "eu defendo a democracia", é melhor se prestar atenção nas ações "desse defensor da democracia". Neste caso a educação para a cidadania SÓ OCORRE POR AÇÃO DAQUELES QUE SE RESPONSABILIZAREM PELO RESGASTE DO DESPOSSUÍDO DE CIDADANIA.
Mas como resgatar "despossuídos de cidadania"? Quem tem alguma responsabilidade e senso de dever terá que aprender A PARTIR DO RESPEITO PELOS VALORES UNIVERSAIS QUE CADA SER HUMANO INTUITIVAMENTE SABE-SE POSSUIDOR: direito à vida com dignidade para si e para os outros.
Sabe-se que as sociedades humanas se organizam sob as mais variadas formas visando proteger aos seus interesses segmentados. Por isso todas elas criaram e mantêm instituições capazes zelarem pelas organizações sociais, políticas, econômicas e culturais.
De todas as instituições criadas para regerem as sociedades humanas, as instituições políticas são as responsáveis pelas resoluções de  conflitos de interesses de classes e têm suas formas, em cada momento histórico, ditadas pelos interesses hegemônicos vigentes, fazendo políticas partidárias e arregimentando simpatizantes por intermédio de discursos político-partidários.
Portanto as lutas negras antirracistas, para ter seus interesses atendidos pelo Estado Brasileiro, terão que pensarem, organizarem os interessados, proporem, discutirem e tirarem conclusões em pautas que representem os interesses das comunidades negras nacionais, nos níveis municipais, estaduais e federais e chegarem a uma pauta comum.
Os primeiros desafios propostos para chegar ao protagonismo político negro no Brasil são “qual deve ser o pensamento político negro capaz de minimizar os conflitos entre os aspirantes a líderes representantes dos interesses negros; em que nível político (municipal, estadual ou federal e por que) deve-se começar; e quais serão as formas que tais aspirantes a lideranças negras usarão para terem representatividade política junto aos seus futuros eleitores e FALAR POR ELES nas instâncias políticas imediatamente acima”.
O bom senso recomenda iniciar este trabalho preocupando antes de tudo em ajudar nós negros a descobrirmos que temos direito, antes de tudo, a sermos cidadãos e, como tais, escolhermos quais são nossas prioridades individuais e em que “as futuras lideranças negras podem ser nossas aliadas”. Portanto dispensam-se os “cabrestos filosóficos e ideológicos”, porque nós eleitores negros estaremos iniciando nossa educação política aprendendo como nos mobilizarmos para dar respaldo político aos nossos representantes...
Numa outra oportunidade voltarei ao assunto propondo outro subtema para discussões e formações de opiniões.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Pelo Racismo Institucional se mantem uma cultura social de intolerância

..."O que aconteceu ao Professor Kabengele Munanga pode ser lido como a continuação do comportamento típico dos dominantes quando enfrentam um caso de rebeldia contra injustiça: o rebelde tem que ser punido, na medida do possível, duma maneira exemplar (leia severamente) para que outros rebeldes potenciais não sejam encorajados em imitá-lo."...


O Professor Kabengele Munanga FOI EXCLUÍDO de uma seleção para professor visitante da UFRB( Universidade Federal do Recôncavo da Bahia). 
Por que tanto medo do Professor Kabengele Munanga? Por que tanta raiva contra alguém que contribuiu tanto na partilha dos seus saberes? Para as pessoas pouco informadas, o Professor Kabengele Munanga se destacou na sua carreira acadêmica na USP.

Em fins de 2013 se aposentou e aceitou o convite para lecionar como Prof. Visitante Sênior na jovem universidade federal do Recôncavo da Bahia(UFRB) Baiano -UFRB. Para isso, se candidatou para uma bolsa da CAPES, Edital 28 de 2013, na Categoria de PVNS Apesar de um parecer favorável e elogioso recomendando a outorga da Bolsa pleiteada, a sua candidatura foi rejeitada, levando a um protesto de vários acadêmicos, incluindo professores da UFRB. Numa carta aberta, agradecendo este ato de solidariedade, o Professor Kabengele Munanga explica historiando o processo em que se deu o que lhe aconteceu (veja anexo em baixo)
Aqui, gostaria de levantar uma pergunta: alguém teria medo do Professor Kabengele Munanga e de onde viria? A necessidade de refletir sobre isso é urgente, não só para os Afro-Brasileiros, mas também para todos os Brasileiros que entendem e agem como membros duma só humanidade, pois o contexto global em que vivemos hoje, exige, com urgência, essa afirmação.
No seu livro Pele Negra, mascaras brancas, Frantz Fanon discute esta questão do medo (pp. 125-6, Edufba, Salvador 2008), focando sobre aspetos bem conhecidos pelos sobreviventes dos legados acumulados da escravidão atlântica e da colonização. Infelizmente, o próprio Fanon não entra na discussão sobre como ele superou o medo. 
O medo dos adversários do Prof Kabengele Munanga é o produto, indireto, da serenidade e da franqueza com que ele tem abordado assuntos incomodantes da sociedade Brasileira, em volta das raízes do racismo, das sugestões sobre como solucionar as injustiças cumulativas herdadas dessas violências contra as partes discriminadas da humanidade.
Esse medo, quer da vitima, quer de quem tem medo da resistência das vitimas, nunca é de bom conselho. O medo dos gerentes dum sistema prisional tem uma explicação, mas, como é sobretudo visceral, a explicação a partir da razão não se aplica. Porque, como sempre aconteceu em outros casos históricos, os administradores do sistema não são preparados para enfrentar quem deveria se submeter à suas ordens, mas que, em vez, se levanta e argumenta a partir da sua consciência e com eloqüência e sabedoria uma saída honrosa para todos. Para os gerentes dum sistema injusto, as vitimas tem que se calar. Ir na contra mão dessa ordem informal é geralmente caracterizado de “impertinência” e, por isso, tem que ser punido.
Os administradores/gerentes dum legado histórico profundamente injusto tem dificuldades em parabenizar o Professor Kabengele Munanga decidir, no fim da sua careira, na pratica, dar uma lição de como corrigir as conseqüências, no nível do ensino superior, duma injustiça sistêmica contra as descendentes e os descendentes da escravidão. 
Não é difícil imaginar o que se passa na mente dos adversários do Professor Kabengele Munanga. Na peça de teatro Et les chiens se taisaient, Aimé Césaire ilustrou como o rebelde escravo enfrentou o dono, no próprio quarto dele. O que aconteceu ao Professor Kabengele Munanga pode ser lido como a continuação do comportamento típico dos dominantes quando enfrentam um caso de rebeldia contra injustiça: o rebelde tem que ser punido, na medida do possível, duma maneira exemplar (leia severamente) para que outros rebeldes potenciais não sejam encorajados em imitá-lo. Historicamente, os exemplos individuais e coletivos abundam: Kimpa Vita, Zumbi, Geronimo, Abdias Nascimento, Toussaint-l’Ouverture, Cuba, Haiti, Patrice Lumumba, Amilcar Cabral, Salvador Allende, Cheikh Anta Diop, Nelson Mandela, Samora Machel, Thomas Sankara, Steve Biko, Chris Hani, Aristide, para não mencionar mais.
O Professor Kabengele Munanga, de origem Congolesa, nação de Kimpa Vita, Patrice Lumumba e outras e outros, na mente dos seus adversários, por definição, não tem direito à palavra, muito menos quando a sua fala/escrita acaba dando uma lição contundente de como superar legados históricos seculares, no Nordeste Brasileiro, para que qualquer Brasileir@ possa pensar, sonhar, e conseguir ser uma estrela, um craque intelectual.
Desde já, agradecemos a coragem do Professor Kabengele Munanga por ter continuado trilhando os caminhos das benzedeiras e dos benzedeiros sobre os quais o grande autor Ghaneense, Ayi Kwei Armah escreveu com tanta eloquencia no seu livro de ficção The Healers. 

Fonte:  https://www.facebook.com/helena.rocha.7

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Racismo Institucional na Escola Infantil

CARTA DE UMA MÃE A UMA ESCOLA BRANCA, ONDE ESTUDA SUA FILHA NEGRA DE QUATRO ANOS
Recife, 05 de maio de 2014.
Prezadas professoras, coordenação da escola e quem mais fizer parte da educação de meus filhos:
Minha filha (Infantil III - Manhã) foi vítima hoje de bulling racista na escola. Vou contar desde o início.
Ao tentarmos fazer a tarefa que pedia para procurar em revistas uma família que se parecesse com a nossa, obviamente, não encontramos, pois nossa mídia acredita que só existem pessoas brancas e de cabelos lisos no Brasil. Pedi, então, para ela desenhar nossa família. Como pode ver no desenho, ela se pintou de "menina branca".
Como trabalhamos muito em casa as questões raciais, até porque meus filhos são filhos de um homem negro, e como minha filha tem o fenótipo de "mulata" (termo que, inclusive, não deve ser usado, por ser derivado de "mula" e expressa fortemente um racismo colonial), questionei porque ela se pintou daquela cor, já que ela é NEGRA (trabalho muito com ela o emponderamento racial). Ela começou a chorar e dizer que não queria ser "daquela cor", que queria "ser branca" e que, quando crescesse, iria colocar pó de arroz para ficar branca.
Tentei ir puxando mais sobre o assunto, sempre dizendo que ela é linda do jeito que é, vangloriando sua beleza (como fazemos sempre aqui), e ela foi soltando mais. Disse: "mas é que não tem ninguém da minha sala com 'esta cor'", "eu não gosto" e "um amigo meu me disse que eu sou feia". Coloquei-a em frente ao espelho e perguntei quem ela via ali. Ela disse: "EU!", e eu perguntei se ela se achava feia mesmo, olhando no espelho. Ela disse que não.
Perguntei, momentos depois, quem foi o amigo que disse que ela era feia, ela respondeu "João", e eu perguntei como ele disse isso. A resposta me fez chorar: "Ele disse que eu sou feia porque eu sou negra".
Queridos, isto é um assunto MUITO sério e que precisa ser tratado com URGÊNCIA dentro de sala de aula. Sugiro que, de imediato, aproveitem o mote da tarefa para fazer isso, para trabalhar como as crianças estão se enxergando, porque isto é fundamental na auto aceitação e na aceitação das diferenças como um todo.
Falo isso porque, apesar de ser branca, sei o que é o racismo velado do Brasil. E ele ACABA com a autoestima das crianças, inclusive de meninas bem resolvidas como minha filha é. Há menos de 15 dias, meu marido levou surra da PM, de graça. Ele é negro, estava de bicicleta e passando próximo a uma comunidade carente. Quem quiser que tente nos convencer de que esta violência "não tem nada a ver com a cor da pele", porque NÓS SABEMOS que tem.
Sexta-feira tem reunião na escola sobre minha filha, e este será o principal tema, depois do que aconteceu. Acho que este é um problema muito mais grave do que qualquer outro que queiram me falar.
Precisamos agir em conjunto. Quero tentar um encontro de pais e mães (porque acredito que esta criança apenas repetiu o que ouviu em casa, já que o tema 'racismo' está na mídia em função da péssima campanha 'Somos Todos Macacos'). O racismo velado está, finalmente, aflorando. E minha filha foi vítima dele.
Precisamos inserir temáticas raciais e sociais com mais força dentro de uma "escola de brancos". Caso contrário, esta praga social nunca deixará de violentar crianças como a minha filha. Tenho várias sugestões de atuação sobre o tema, livros para se abordar o tema em sala de aula, até uma aula PRONTA, utilizando o livro "Menina Bonita do Laço de Fita", esta aula está disponível no Portal Geledés Instituto da Mulher Negra.
Conheço ativistas do movimento negro, com quem poderia falar para se pensar em uma palestra para pais e mães. Porque é fácil se dizer 'não racista' sendo branco, mas sem fazer ideia do que as pessoas negras sofrem no Brasil, principalmente se elas, como a minha filha, são minoria dentro de um contexto específico, como é o da escola dela. É difícil ser 'diferente' em um ambiente preconceituoso (as crianças trazem os preconceitos de dentro de suas casas), portanto, acho FUNDAMENTAL que se trabalhem DE VERDADE estes preconceitos.
A dor da minha filha é minha dor também. A semente do racismo foi plantada dentro de minha família, de forma bem triste, nos últimos dias. Espero que, com a ajuda da escola, consigamos fazer com que ela não germine, e que minha filha e outras crianças negras não sofram nunca mais com este tipo de semente, que pode destruir a identidade de uma pessoa. Porque, como disse uma amiga minha, negra, "esta ferida plantada na infância não sara nunca".
Agradeço a atenção.

Patrícia.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

EVOLUÇÃO DO RACISMO NO BRASIL COM O FIM DO REGIME ESCRAVO

É válido expormos nossas Histórias institucionalmente não-contadas ainda, denunciarmos atitudes preconceituosas  contra  pobres, negros e afrodescendentes em geral assim como expormos quaisquer insatisfações contra a chamada “sociedade historicamente privilegiada”.
Por outro lado TAMBÉM está na hora de acreditarmos em nossas capacidades de fazer propostas capazes de superarem aquilo com o que não mais concordamos e defendermos um país capaz de se desenvolver de forma que também caibam outros representantes da população brasileira e até agora sistemática e intencionalmente excluídos. Pois até agora a chamada “sociedade historicamente privilegiada” apenas soube construir um país conforme seus interesses de classe e etnia. 
Eu não acredito em solução para o racismo no Brasil sem a democratização das condições que permitam aos adeptos das lutas antirracistas no Brasil  apresentarem e discutirem tais propostas com eleitores. Essa democratização dependerá muito de financiamento público de campanhas. As discussões de tais propostas (como o Brasil se desenvolverá de forma a dar chances dignas à maioria dos brasileiros, revolução na educação pública em todos os níveis, revolução na saúde pública, rearranjo da segurança pública e  qualificação profissional - tudo isso feito amarrado a um projeto estratégico de país soberano e inclusivo)  terão mais chances de serem bem sucedidas fazendo-as vizinho a vizinho, - partir dessa fase é imperioso que os promotores dessas iniciativas se preocupem também com a formação de multiplicadores e coordenadores políticos não-vinculados a partidos e sim comprometidos com as propostas defendidas e aprovadas antes capazes de representarem o que se decidiu em fases anteriores -  rua a rua, bairro a bairro, cidade a cidade, regionalmente e finalmente em âmbito nacional. Só assim elegeremos vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores comprometidos com a luta antirracista no Brasil.
EVOLUÇÃO DO RACISMO NO BRASIL COM O FIM DO REGIME ESCRAVO; o racismo midiático e as elites logotécnicas
por Denis de Oliveira
Esta matéria faz parte da edição 128 da revista Fórum.

Entre o final do século XIX e início do século XX, o racismo no Brasil travestiu-se de um discurso pretensamente científico ao importar as ideias das teorias da eugenia e da antropologia criminal, que eram fortemente presentes nos círculos intelectuais daqui. E foram ressignificadas. A teoria da eugenia prega a separação entre “raças”, afirmando que a mestiçagem produz um tipo degradado de ser humano. É a base de políticas segregacionistas, como o apartheid.
No Brasil, a teoria foi adaptada à circunstância de ser uma nação com maioria de população negra. Aí houve a adaptação para o “branqueamento”, a ideia de que a mestiçagem seria uma política “limpa” de faxina étnica. O diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro João Batista de Lacerda apresentou essa “solução brasileira” no Congresso Internacional das Raças de 1911, em Londres, como uma medida eficaz para a limpeza étnica, silenciosa e sem confrontos.
A mestiçagem foi novamente tratada, dessa vez como singularidade nacional, na obra de Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala. E dessa vez não como uma solução de limpeza étnica, mas como símbolo de uma tolerância racial tipicamente brasileira que deu base à ideia da democracia racial. Freyre teve o mérito de deslocar o conceito de raça da biologia e colocá-la como categoria das ciên­cias antropológicas.
O que se percebe nessas experiências é que o racismo foi uma ideia discutida no campo das ciências. Foucault, em Microfísica do poder, fala que o racismo não surgiu como uma “ideologia política”, mas como uma “ideo­logia científica”. Isso é importante para que percebamos que o racismo é um discurso que tem uma lógica e é racional. Não se trata apenas de deturpação ou de ignorância (embora alguns racistas efetivamente tenham isso), mas de uma narrativa sofisticada e articulada. Por isso, ele persiste no imaginário de muitas pessoas, penetra nas instituições e estrutura as relações sociais do país, por mais que o movimento antirracista denuncie e tenha algumas vitórias no campo legal e normativo.
Os principais sujeitos do racismo científico são as elites intelectuais. Foi no campo acadêmico que ele se estruturou e a legitimidade dessa elite intelectual possibilitou a sua disseminação como narrativa ideológica. Partilharam desse discurso personalidades importantes na intelectualidade brasileira, algumas até próximas a propostas nacionalistas e progressistas, como o escritor Monteiro Lobato e o educador Anísio Teixeira, simpatizantes e até militantes da causa da eugenia.
O que percebemos atualmente é que a legitimidade do discurso racista vai paulatinamente se deslocando da esfera acadêmica para a midiática. São as elites logotécnicas, conceito de Muniz Sodré para definir o campo de profissionais que operam a indústria imagética e midiática, que operam o novo discurso racista. Novo porque o campo da indústria imagética é distinto da academia. Na academia, o elemento ideológico é a razão instrumental. Na indústria imagética, a visibilidade e a celebridade.
O caso recente do personagem da novela Amor à vida, que é uma criança negra adotada por um casal de classe média alta, é um exemplo disso. A criança negra terá os seus cabelos cortados porque o autor da novela – Walcyr Carrasco – diz que uma família rica que adotasse uma criança negra “faria isso” e que “quer um personagem que seja aceito”, ignorando que um ator da própria novela, Marcelo Anthony, tem uma criança negra adotada sem ter o cabelo raspado. Irritado com as críticas, ameaçou ainda que, se não ficarem satisfeitos, tira o personagem, e ponto.
Por diversas vezes, o movimento negro reivindicou cotas de participação de negros e negras nas produções midiáticas de ficção e publicidade, reivindicação sempre rejeitada pelos membros da elite logotécnica, sob a alegação que isso iria ferir a “liberdade de criação” do autor. Como se essa liberdade de criação não estivesse submetida às lógicas do capital que emprega tais autores.
O racismo midiático é uma das novas fronteiras de enfrentamento do movimento antirracista. E também uma das mais difíceis. Porém, conforme se observa em todos os outros campos da luta social, a democratização plena não acontecerá sem a democratização total da mídia. F
 

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