“Agora sim, parece (parece cabelo de) gente”
Por Vitória, em comentário para http://faladelas.com/2015/06/17/nao-alisem-as-criancas-e-abusivo-por-amanda-bomfim/
Sou de descendência judia, e
assim como muitas meninas negras, tenho um cabelo bem cacheado e volumoso,
parecido com aqueles que eram usados nos anos 90. Minha mãe alisou meu cabelo
quando eu tinha 10 anos, naquela época que se usava o formol forte (e por ser
criança, não tinha muita consciência daquilo ao que me submeti). Hoje acho isso
uma loucura e um absurdo.
Quando comecei a entrar na pré-adolescência, a química foi indo
embora. Mas eu continuava a penteá-lo seco, tirava todos os cachos (que eu não
sabia que existiam) e parecia um poodle. Eu achava que eu tinha cabelo de
bruxa. Por que eu não podia ser bonita como as outras meninas? Eu prendia meu
cabelo com milhões de gominhas.
Numa noite eu dormi com ele molhado e, na manhã seguinte, acordei com cachos! Eu não sabia: meu cabelo era cacheado! Só me lembrava dele liso, de quando fizera alisamento. Foi um choque. Minha mãe nunca me disse nada, e nós não tínhamos mais dinheiro pra pagar um alisamento.
Numa noite eu dormi com ele molhado e, na manhã seguinte, acordei com cachos! Eu não sabia: meu cabelo era cacheado! Só me lembrava dele liso, de quando fizera alisamento. Foi um choque. Minha mãe nunca me disse nada, e nós não tínhamos mais dinheiro pra pagar um alisamento.
Tentei aprender a manter os cachos como pude, mas nunca deu
certo, ninguém nunca tinha me ensinado. Numa das últimas vezes que decidi e me
submeti novamente a um alisamento, minha mãe falou: “Agora sim, parece gente.”
Isso me marca muito. Uso chapinha desde os 12.
Agora tenho 18 e fiz novas tentativas (conversei com pessoas que
me ensinaram o que fazer com meu cabelo), e dessa vez fui bem sucedida! Quero
progredir até usá-lo cacheado todos os dias. Mas há vezes que ele ainda fica
muito frizzado, com cachos indefinidos, e eu me sinto feia. Isso certamente me
deixa muito triste. Espero, realmente, poder um ia olhar para o espelho e ter
orgulho de quem eu sou, e de como meu cabelo é. Ele é uma forte marca da minha
identidade, e parece que, quando eu o rejeito, estou rejeitando a mim mesma. E
eu quero realmente me amar como sou.
E ah: minha mãe não é má. Na verdade, ela alisa o cabelo. Ela
tinha o cabelo muito, mas muito mais crespo que o meu. Quando ela rejeita o meu
cabelo, está rejeitando o dela. E isso é triste.
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