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segunda-feira, 20 de março de 2017

Uma releitura positiva do racismo estrutural; Quem essa negra pensa que é?;

Quem essa negra pensa que é?
Eu fui aquela que deixou de ser rainha para se tornar sua escrava.
O ser coisificado que você comprou para lhe servir.
Aquela forçada a ver o filho morrer de fome para amamentar o seu.
Eu fui aquela que gerou e criou sozinha o mulatinho, fruto da lascívia do sinhô.
Eu fui a "liberta", que sujeitou-se ao subemprego para sobreviver.
Aquela que depois de "liberta", voltou a ser escrava, analfabeta, na casa de família, sendo a "quase da família".
Eu fui a que atrasou-se 50 anos na educação, porque limpava sua casa enquanto sua filha, com a mesma idade, estudava e se formava.
Eu fui aquela objetificada, das ancas largas, da pele quente, do rebolado hipnotizante.
Fui a humilhada, do cabelo duro, do nariz chato, a macaca, a preta do saravá.
Eu fui a preterida, a boa de cama, amante das boemias, a amaldiçoada para casar.
Mas houve um dia...
E eu fui aquela que acordou.
A que cansou de ser a criada.
Hoje eu sou a que acorda todo dia empoderada para vencer.
Eu sou aquela que "roubou" a sua vaga na universidade.
Que chutou o subemprego.
Eu sou aquela que mete o dedo no seu nariz quando apita o desrespeito.
Aquela que descobriu o poder de sua história, o valor de sua cultura, a beleza de seus traços.
Eu sou aquela que o padrão não domina mais.
Que quebrou a corrente da senzala e te fez tremer na casa grande.
Somos todas aquela!

EU SOU A NEGRA QUE VOCÊ OLHA, MAS NÃO VÊ. EU SOU A NEGRA QUE VOCÊ NÃO QUER AQUI. EU SOU A NEGRA QUE VOCÊ VAI TER QUE ENGOLIR!

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