Racismo Estrutural; Mecanismos Usados
para Convencer Pretos e Pretas a Aderirem ao “Branqueamento Social”
Esclareço
aos leitores que não tenho a pretensão de esgotar todas as possibilidades de
descrições a esse respeito. Portanto elas estarão sujeitas a revisões e
acréscimos sempre, inclusive com as colaborações de vocês.
Se
analisarmos as trajetórias históricas de diferentes povos e suas culturas nos
últimos 10.000 anos, a partir de quando eles deixaram de ser nômades,
aprenderam praticar a agricultura, vivenciaram a necessidade de terem a posse
da terra e passaram a viver em sociedades cada vez mais complexas, facilmente
constataremos, também, que desde então ficou muito mais difícil a convivência
entre as pessoas de diferentes níveis sociais dentro de uma cultura comum ou
entre culturas diferentes.
As desavenças
entre membros de u’a mesma família, com o tempo geraram atritos cada vez
maiores entre famílias, tribos, reinos impérios e, modernamente, também, entre
países diversos.
No
século 18, com o surgimento da Revolução Industrial na Inglaterra, a Cultura
Europeia Ocidental passou a ter capacidade de modelar o Mundo, quando, então,
se desenvolveu a percepção de que o Poder é capaz de racionalizar suas
conveniências.
No
século 19 as potências colonialistas europeias expandiram seus poderes para a
África e a Ásia e, para justificarem essas ampliações dos seus domínios
coloniais, também, as modernas ideologias racistas.
Dessas
modernas ideologias racistas surgiram aquilo que motiva esta redação – algumas práticas racistas que sempre
convenceram aos pretos e pretas a aderirem à necessidade de se “branquearem”
para serem “aceitos” pelos brancos.
Antes
de se expor os exemplos involuntários de adesões modernas de pretos e pretas às
necessidades de ficarem cada vez mais brancos para, mais facilmente, serem,
teoricamente, cada vez mais aceitos pela branquitude, é preciso deixar bem
claro alguns pontos históricos, conforme seguem.
Os
europeus já conheciam os processos de produções escravagistas introduzidos
pelos árabes durante os 8 séculos em que dominaram a Península Ibérica (Portugal
e Espanha), parte da França e do Sul da Europa.
Essas
ações brancas moldadoras dos comportamentos sociais, culturais, econômicos e
políticos pretos somente se tornaram possíveis, porque OS BRANCOS JÁ ESTAVAM,
MAJORITARIAMENTE, NO PODER NA EUROPA OCIDENTAL, COM O FIM DO DOMÍNIO DOS ÁRABES,
E DESDE O INÍCIO DA DIÁSPORA PRETA FORÇADA PELA ESCRAVIDÃO A PARTIR DO SÉCULO
15.
A
IGREJA CATÓLICA, JÁ, DE LONGA DATA, A MAIS RESPEITADA INSTITUIÇÃO RELIGIOSA
EUROPEIA, ABONOU A ESCRAVIDÃO NEGRA, EXPEDINDO BULA PAPAL AFIRMANDO QUE “NEGROS
NÃO TINHAM ALMA”, E, A PARTIR DE ENTÃO, TAMBÉM ADERINDO À ESCRAVIDÃO EM SUAS
PROPRIEDADES. O PEDIDO DE DESCULPA DO VATICANO, PORÉM, SÓ VEIO, PUBLICAMENTE,
POR ISSO, NA CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 1988.
JÁ,
NO SÉCULO 19, ESSAS MESMAS AÇÕES FORAM MAIS REFORÇADAS, AINDA, A PARTIR DAS
POLÍTICAS DE EXPANSÃO DO COLONIALISMO EUROPEU NO CONTINENTE AFRICANO E NA ÁSIA
POR INTERMÉDIO DA RACIONALIZAÇÃO DOS PODERES ECONÔMICOS, CULTURAIS, POLÍTICOS E
MILITARES DESSAS MESMAS PONTÊNCIAS COLONIALISTAS EUROPEIAS.
ESSAS
POLÍTICAS COLONIALISTAS EUROPEIAS ADENTRARAM O SÉCULO 20 PARA O CONTINENTE
AFRICANO NAS SUAS PRIMEIRAS TRÊS DÉCADAS E SÓ FORAM, EM SUA MAIORIA,
POLITICAMENTE DESMONTADAS A PARTIR DA DÉCADA DE 60 DESSE MESMO SÉCULO.
Com
as teorias racistas justificadoras das políticas coloniais racistas, também e
com o início da era das mídias impressas (livros, jornais e revistas), e das
grandes mídias de massas (emissoras de rádio, empresas produtoras de filmes e
de TVs) os mecanismos facilitadores das práticas racistas estruturais e
institucionais já estavam firmemente instalados nas sociedades ocidentais.
Existem
expectativas de adoções reais de novos comportamentos e de costumes que se
apoiam em defesas disso feitas por psicólogos, médicos, psiquiatras,
sociólogos, antropólogos e profissionais afins, desde que essas
conscientizações sejam feitas de formas adequadas às capacidades culturais de
compreensões dos interessados.
Para
isso eu ponho em discussão abordar pretos e pretas, de acordo com seus perfis
culturais e usando os chamados Temas Transversos.
No
Brasil esta análise restringirá nossos exemplos ligados aos fenômenos
culturais, aos conflitos normais entre crianças e adolescentes nas Escolas, às
exposições de conteúdos nos livros escolares, nas observações das atividades
religiosas da Igreja Católica e de outras denominações religiosas, às exibições
de filmes nos cinemas, às emissoras de TVs e à internet. Nesses veículos de
disseminações culturais em massa raramente pretos e pretas, em qualquer idade
veem referências positivas sobre si mesmos fora do futebol, da arte de cantar e
de sambar.
Essa falta de exemplos edificantes dos quais a maioria das pretas e dos pretos possam sentir orgulhos genuínos da sua etnia são altamente estimuladoras de adoções
involuntárias de se “branquearem” cada vez mais, gerações após gerações.
Entendo
a expressão “adoções involuntárias das práticas do branqueamento”, porque as
bases do Racismo Estrutural Brasileiro chegaram ao Brasil como cultura
transplantada do Continente Europeu por intermédio da Cultura Portuguesa. Aqui
geralmente vemos a Europa como um Continente Branco, o que, originalmente nunca
foi, antes de consolidarem seus poderes políticos no Continente a partir da segunda metade do século 19.
Fonte: Mavangu Kia Sengu
Este
exemplo, desde a Antiguidade até nas transições dos séculos 18/19, ocorreu na
maioria do Continente Europeu, uma vez que a espécie Homo sapiens, há 200 mil anos, surgiu na África Central e, a partir
daí, durante 160 mil anos colonizou o Mundo, enquanto os brancos apareceram na
Ásia Central (Região da Turquia) somente nos últimos 40 mil anos! ...
Voltemos
aos nossos exemplos.
Na
comunidade Sagrado Coração de Jesus do Lago de Serpa, localizada a
aproximadamente 170 quilômetros de Manaus e oito quilômetros acima da sede do
município de Itacoatiara (AM), quilombolas cafuzos (mestiços de índios com
negros) PRECISARAM DE SER CONVENCIDOS QUE ERAM, TAMBÉM, DESCENDENTES DE NEGROS,
para, assim, participarem de programas de regularização de terras a que faziam
jus.
Neste
caso temos um exemplo de fenômeno cultural induzido pelo Racismo Estrutural e
manifestado pela tendência em negar ser originário da etnia preta (Fonte: http://amazonia.org.br/2015/02/descendentes-de-escravos-no-amazonas-conseguem-t%C3%ADtulo-de-remanescentes-de-quilombo/).
Porém
este não é um fenômeno cultural restrito a pessoas ou comunidades pretas com
baixas instruções formais ou com baixo nível cultural, uma vez que dentro das
instituições de ensinos superiores ou em grupos egressos delas a adoção
voluntária do branqueamento, também, ocorre em suas variadas formas, sendo os mais comuns, o branqueamento social pelos casamentos inter-raciais entre negros economicamente diferenciados da maioria dos seus pares com mulheres brancas, e o branqueamento cultural mimetizando costumes brancos.
Nos conflitos normais entre crianças e
adolescentes, dentro ou fora das Escolas ou entre adultos é muito comum as
ofensas étnicas contra pretos ou pretas; tais como estabelecer semelhanças
entre os cabelos afros com as esponjas de aço para limpeza ou, entre entras
relações, relacionar “dreads” a “cabelos sujos”. Já nas festas juninas
escolares é indisfarçável a má vontade de crianças brancas em formarem pares
com crianças negras.
Nas atividades religiosas anjos negros causam
estranhamentos independente das idades das plateias.
Nos livros escolares, brancos ilustram
imagens de professores, enquanto aquelas atividades socialmente pouco
valorizadas dentro das escolas são ilustradas por pretas e pretos; porém
sabemos que, hoje em dia, pretos e pretas podem, perfeitamente, ilustrar
imagens de professores escolares.
Nas exibições de filmes, tanto nos cinemas
quanto nas emissoras de TVs, brancos têm uma enorme diversidade de
representatividades em atividades socialmente valorizadas, enquanto pretas e
pretos ficam restritos às atividades históricas ligadas à época da escravidão,
e, nas produções cinematográficas ou televisivas contando histórias pós final
do período escravo, aos pretos e pretas ficam reservadas representações de
atividades socialmente pouco valorizadas.
Lembram do programa “Zorra Total”, onde a
“cara da riqueza” era preta e desdentada, enquanto, nos filmes, pretos tendem a
ser chamados para fazer papeis de irresponsáveis, de transgressores dos bons
costumes, de pouco inteligentes ou de bandidos”, e brancos, para fazer os
papéis de responsáveis, de representantes das leis, de responsáveis, de
inteligentes e de cumpridores das leis?
Nas mídias em geral as famílias brancas são
os “ideais familiares a serem valorizados”, enquanto as famílias pretas são
retratadas como os inversos desses ideais. Frequentemente, nessas mesmas
mídias, negros que exercem atividades de brancos casam com brancas que tendem
ter menos instruções formais do que eles e, geralmente, são apenas donas de
casas.
Finalmente, é fácil verificar nas redes
virtuais como as tendências midiáticas racistas e/ou de preconceitos variados
prevalecem, fora dos grupos onde predominam pretos e pretas se relacionando
entre si...
Obs.: Sempre que necessário irei complementar este texto e adicionar outras imagens que o Racismo Estrutural usa para estimular a adoção do branqueamento por pretas e pretos. |